Matemática e os Humanos: Uma Relação Complicada

A matemática é uma das disciplinas mais antigas e, ao mesmo tempo, uma das mais desafiadoras para a humanidade. Apesar de sua presença constante em quase todas as atividades diárias – seja ao calcular o troco no supermercado, analisar uma conta de energia, ou até na ciência por trás dos dispositivos tecnológicos que usamos –, muitos ainda mantêm um certo pavor em relação a ela. A pergunta é: por que a matemática provoca tantas reações negativas?

Talvez a melhor maneira de responder a essa pergunta seja começar do início, no primeiro contato das crianças com a matemática. Imagine a história de João, um garoto animado, cheio de curiosidade sobre o mundo. Quando aprendeu a contar, ele ficou encantado. Sentia-se poderoso, como se pudesse compreender algo secreto. No entanto, essa sensação durou pouco. Logo, ele foi apresentado às operações de adição e subtração, que ainda pareciam fáceis. Mas, com o tempo, vieram a multiplicação, divisão, frações, até chegar às equações e problemas mais complexos. Foi aí que o brilho da matemática começou a se apagar para João.

Como João, inúmeros estudantes enfrentam dificuldades ao longo do caminho, muitas vezes por conta do método de ensino. Em muitas escolas, a matemática é ensinada como uma coleção de fórmulas a serem memorizadas, em vez de conceitos para serem compreendidos. Essa abordagem mecânica acaba afastando os alunos, que não veem utilidade no que estão aprendendo. Em outras disciplinas, como História ou Língua Portuguesa, os estudantes conseguem associar o conteúdo a narrativas e contextos culturais, mas a matemática parece carecer desse mesmo apelo.

Outro fator que contribui para o problema é a pressão que muitos estudantes sentem para acertar tudo de primeira. A matemática é percebida como uma ciência exata, onde um erro pode arruinar toda a resposta. Ao contrário de outras matérias, onde o erro pode ser corrigido ou analisado, o erro na matemática é muitas vezes visto como algo definitivo, o que provoca ainda mais ansiedade nos alunos. Esse medo de errar impede que muitos estudantes se sintam confiantes para tentar resolver problemas por si mesmos, criando um ciclo de insegurança.

Para ilustrar melhor, podemos imaginar outro aluno, a Maria. Desde pequena, Maria mostrava um talento para artes e literatura. Para ela, a matemática parecia uma realidade distante, quase alienígena. Quando precisou estudar álgebra e trigonometria, sentiu que estava tentando entender uma linguagem de outro planeta. Sua professora, que precisava seguir o conteúdo curricular e atender uma sala cheia de alunos, não teve tempo de ajudá-la a ver a beleza da lógica por trás da matemática. Maria, como muitos, começou a acreditar que simplesmente “não era boa” nisso.

E, como se o medo da matemática e o ensino inadequado não fossem suficientes, há ainda o problema de como a sociedade valoriza e lida com o aprendizado. Muitos adultos, incluindo pais, demonstram desprezo ou desinteresse pela matemática, reforçando a ideia de que essa matéria é desnecessária. “Ah, eu também nunca fui bom em matemática”, dizem, como se isso fosse um alívio para as crianças que encontram dificuldades. No entanto, essa atitude apenas confirma a ideia de que é normal evitar a matemática, ao invés de incentivá-los a enfrentar o desafio.

No entanto, o verdadeiro humor da situação talvez esteja na matemática em si, que observa tudo isso com uma certa "superioridade". Afinal, enquanto os humanos tentam entender seus mistérios, a matemática permanece inabalável, aguardando pacientemente para ser compreendida. Ela “sabe” que, sem ela, as tecnologias não evoluiriam, as construções não se manteriam em pé e a ciência não progrediria. E assim, a matemática, silenciosamente, “zomba” de todos os que a temem, permanecendo firme, aguardando a próxima geração que tentará desvendar seus segredos.

Assim, matematicamente, a matemática vence. Ela ri de nós, enquanto nos enredamos em contas e conceitos que só ela domina. Pois, ao fim do dia, quem precisa da matemática somos nós – e ela nos observa, talvez com um sorriso, esperando nossa próxima tentativa de entendê-la. 
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